Cultura Rastafari
A HISTÓRIA DA CULTURA RASTAFARI
Uma opinião que une os rastafáris é que Ras (título amárico de nobreza que pode ser traduzido como “príncipe” ou “cabeça”) Tafari (“da paz”) Makonnen que foi coroado como Hailê Selassiê I, Imperador da Etiópia em 2 de Novembro de 1930, é a encarnação do chamado Jah (Deus) na Terra, e o Messias Negro que irá liderar os povos de origem africana a uma terra prometida de emancipação e justiça divina.
Porém algumas correntes rastafáris não acreditam nisso literalmente. Parte porque seus títulos, como Rei do Reis, Senhor dos Senhores e Leão Conquistador da tribo de Judá, apesar de se encaixarem com aqueles mencionados no livro de Judá, também foram dados, de acordo com a tradição etíope, a todos os chamados imperadores salomônicos desde 980 a.C., mas Selassiê foi o único que recebeu, evidentemente, todos os títulos, incluindo os mais sagrados como Supremo Defensor da Fé e Poder da Santíssima Trindade.
Hailê Selassiê era, de acordo com algumas tradições, o ducentésimo vigésimo quinto na linha de imperadores etíopes descendentes do bíblico Rei Salomão e a Rainha de Sabá. O salmo 87:4-6 é também intrepretado como a previsão da sua coroação. De acordo com a historiografia etíope, no século X a.C., a dinastia salomônica da Etiópia foi iniciada com a ascensão ao poder de Menelik I, filho de Salomão e da Rainha de Sabá, que visitava Salomão em Israel. 1 Reis 10:13 diz: “E o Rei Salomão realizou todos os desejos da Rainha de Sabá, um destes sua própria generosidade Real. então ela voltou e foi para seu próprio país, ela e seus servos.”
Segundo a popular epopéia étíope Kebra Negast, rastas interpretam isto como o significado que ela concebeu seu filho, e disto eles concluem que as pessoas negras são as verdadeiras crianças de Israel, ou hebraicas.
Hebreus negros tem vivido na Etiópia por séculos, sem conexão com o resto do mundo judaico; a existência deles deram credenciais e ímpeto para os primeiros Rastafaris, validando a crença de que a Etiópia é na verdade Sião, já que só lá que a Casa de Davi reinava soberana, sob um país cristão/judaico, além de possuir a Arca da Aliança.
Alguns rastafáris escolhem classificar sua religião como cristianismo ortodoxo etíope, cristianismo protestante, ou judaísmo. Entre estas, os laços para a Igreja etíope são os mais difundidos, embora isto seja uma controvérsia para muitos clérigos etíopes.
Os rastafáris acreditam que as traduções comuns da Bíblia incorporam mudanças criadas pela estrutura da força branca racista. Alguns adoram a Kebra Negast, mas muitos destes rastas classificariam-se como etíopes ortodoxos na religião e rastafáris na ideologia. Alguns rastas prestam pouca atenção ao Kebra Negast, e muitos o consideram como estando pouco próximo da santidade da Bíblia. Muitos rastafáris acreditam que Selassiê é de certa forma a volta de Jesus Cristo e que, assim, eles seriam verdadeiros israelitas. Alguns ainda acreditam que Jesus era Moisés, filho de José, enquanto Selassiê seria “Moisés, filho de David”, e usam uma visão não-milenar do reinado de Cristo e uma visão pós-milenar para Selassiê.
No coração do rastafári está a crença de ser o próprio rei ou príncipe (por isso eles se proclamam rastafári). Como cantou Ras Midas, “Quando eu vi meu pai com a picareta e minha mãe com a vassoura, eu soube que o rasta estava exilado” (Ras Midas, Rastaman in Exile, 1980). Os rastas dizem que eles foram escravizados, mas converteram isso ao seu próprio potencial divino, acreditando que, como Selassiê interrompeu esse ciclo, eles também são dignos de serem reis e príncipes. Rastas chamam Selassiê de Jah ou Jah Rastafari, e acreditam haver uma grande força nestes nomes. Eles autoproclamam-se rastafári para expressar a relação pessoal que cada rasta tem com Selassiê I.
Rastas gostam de usar o número ordinal com o nome Hailê Selassiê I, com o número romano dinástico significando o primeiro deliberadamente pronunciado como a letra I – novamente como signicado da relação pessoal com Deus. Eles também o chamam de H.I.M., sigla em inglês para “Sua Majestade Imperial” (His Imperial Majesty). Isso tudo reflete unidade, tendo em consideração que muitas das expressões rastas começam com “I”, como I-Ration e I and I.
Quando Hailê Selassiê I morreu em 1975, sua morte não foi aceita por alguns rastafáris que não podiam aceitar que o Deus encarnado poderia morrer. Muitos acreditam que a morte de Selassiê foi um engodo, e que ele voltaria para libertar seus seguidores. Os rastas atualmente consideram este parcial preenchimento de profecia encontrado no apocalíptico trecho de Esdras 2 7:28.
Uma história anônima da fé rastafari aponta para Debre Damo, um dos três antigos Príncipes das Montanhas. Ele acredita que depois Derg ordenou sua execução, os leais da guarda imperial trabalhando como agentes duplos usaram hipotermia induzida para fazer Selassie aparecer morto. Ele e os remanescentes leais da Guarda Imperial foram contrabandeados para assegurar o significado da estrada de ferro subterrânea. Eles agora caem em êxtase em um quarto secreto debaixo do monastério até o dia do julgamento, no qual eles serão automaticamente reanimados e totalmente revelados (11:19-21), assim como a Arca que está na Etiópia irá surgir. Isto deve ocorrer apenas depois dos idosos libertarem o povo da Jamaica, pois Selassiê, em 1966, disse que a repatriação e revelação só ocorreriam após a Jamaica ser libertada pelos Rastafaris.
O movimento rastafári se espalhou muito pelo mundo, principalmente por causa da imigração e do interesse gerado pelo ritmo do reggae; mais notavelmente pelo cantor e compositor de reggae jamaicano Bob Marley. No ano 2.000 havia aproximadamente um milhão de seguidores do rastafarianismo pelo mundo, algo difícil de ser comprovado devido à sua escolha de viver longe da civilização. Por volta de 10% dos jamaicanos se identificam com os rastafáris.
Muitos rastafáris são vegetarianos, ou comem apenas alguns tipos de carne, vivendo pelas leis alimentares do Levítico e do Deuteronômio no Velho Testamento.
O desejo e objetivo do Rasta é descobrir como o mundo é por uma visão de fora, enquanto eles olham a vida de dentro, olhando para fora; e todo rasta tem de encontrar sua própria verdade. Estar próximo a natureza e da savana africana e seus leões, em espírito se não fisicamente, é primordial pelo conceito que eles tem da cultura africana. Viver próximo e fazer parte da natureza é visto como africano. Esta aproximação africana com a natureza é vista nos dreadlocks, ganja, e comida fresca, e em todos os aspectos da vida rasta. Eles desdenham a aproximação da sociedade moderna com o estilo de vida artificial e excessivamente objetivo, renegando a subjetividade a um papel sem qualquer importância.
CORES
A identificação com as cores verde, dourado, e vermelho, representantativas da bandeira da Etiópia. Elas são o símbolo do movimento rastafári, e da lealdade dos rastas a Hailê Selassiê, à Etiópia e a África acima de qualquer outra nação moderna onde eles possivelmente vivem.
Estas cores são freqüentemente vistas em roupas e decorações:
• o vermelho representaria o sangue dos mártires
•o verde representaria a vegetação da África
•o dourado representaria a riqueza e a prosperidade do continente africano
São, portanto, cores representativas de valores tanto materiais (físicos) quanto metafísicos (ou espirituais).
O físico, no verde, se relaciona à Terra-Mãe, natureza, fauna, flora tão exuberantes, na África, assim como no Brasil, fonte de vida e prosperidade, terra provedora de abrigo e alimento. O aspecto metafísico do verde é a esperança porque esta cor está ligada, nas tradições esotéricas mais antigas, aos fenômenos de renovação. No Taro, oráculo de cartas de origem hindu-egípcia, a carta XX, tem o verde como cor destacada. O arcano (a carta) chamado O Julgamento, mostra três figuras que se erguem de um túmulo diante de um anjo apocalíptico, uma cena de ressurreição.
Nos tons do amarelo e do vermelho se concentram outros significados subjetivos: A Paz, condição necessária a uma existência saudável; a Igreja, como força social de união entre os povos; o poder, como capacidade de realização de metas, de transformar sonhos em realidades e, finalmente, a Fé, sem a qual estas capacidades não podem ser alcançadas. É pela fé que se mantém a persistência rumo a um objetivo não obstante os numerosos obstáculos que se interponham entre uma pessoa e suas aspirações mais elevadas.
GANJA
Ganja, marijuana, cannabis é uma erva medicinal milenar usada pelos Rastas, não para diversão ou prazer, mas sim para limpeza e purificação em rituais controlados.
Alguns Rastas escolhem não a usar. Muitos sustentam o seu uso através de Génesis 1:29:
“E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.”
De fato, a erva “ganjah” (marijuana) foi reconhecida como “o fumo da sabedoria”, e líderes Rasta determinaram que ela seria fumada como um ritual religioso, alegando que fora achada crescendo na cova do Rei Salomão e citando passagens bíblicas, para atestar suas propriedades sagradas: “Ele criou a grama destinando-a ao gado, e a erva à serviço do Homem, de forma que trará comida farta pelo mundo afora”.
O uso da Canabis e particularmente em grandes cachimbos chamados “Cálices” é parte integral do culto que o Rastafari chama de “Seção de Arrazoamento”. O “Cálice Flamejante” também é símbolo do “Universalismo Unitário”. Eles vêem a Canabis/ Maconha/ Cânhamo como tendo a capacidade de permitir o usuário a penetrar na real verdade de como as coisas são com absoluta clareza. Por este motivo é que os Rastafari se reunem para fumar Canabis e discutir a verdade uns com os outros, racionalizando tudo nos mínimos detalhes que duram inúmeras seções.
SIMBOLOGIA
A significação dos elementos estétio-artísticos da cultura rastafari está relacionada com suas origens doutrinárias onde se misturam símbolos antigos e contemporâneos.
Quando se fala em “rastafari” certas imagens mentais são evocadas imediatamente, como “reggae music”, Dreadlook ou a alegria, a vivacidade das cores predominantes em roupas e objetos. Cada um destes elementos tem sua razão de ser, sua explicação.
DREADLOK
As tranças ou mechas são cultivadas desta forma por razões filosofico-religiosas e identitárias. Os rastafaris argumentam que o crescimento contínuo dos cabelos é condição natural da bioquímica do organismo humano, idéia que se combina com a evidência de que esta bioquímica é uma determinação de Deus, e a vontade de Deus é soberana. (A pelagem dos cavalos, das zebras ou das axilias e região pubiana, por exemplo, não crescem ad infinitum!). Por outro lado, o dreadlook remete à imagem da juba de um leão, animal que, enquanto símbolo, expressa várias idéias: rei (dos animais), força, coragem, dignidade. Historicamente, cada soberano da Dinastia do Rei Salomão, do Trono de Davi, recebe, com o cetro e a coroa, o título de “Leão de Judah”, figura enigmática identificada como “aquele que resgata o Reino de Deus”. Esotericamente, o leão refere-se ao retorno de Cristo (o Messias, o Salvador), que veio ao mundo há mais de dois mil anos atrás como “cordeiro de Deus”. Dizem os profetas que a Segunda vinda do Messias ocorre nos seguintes termos: “o cordeiro voltará como leão”. Para os rastafaris, este retorno já ocorreu e o Leão de Judá foi Haile Selassie, como foi explicado nos tópicos anteriores.
MÚSICA
A música rastafari, ao contrário da clássica concepção estética kantiana (de Emmanuel Kant), não se enquadra em questões de ‘juizo de gosto” nem é uma atividade gratuita, objeto daquela contemplação conceitualmente vazia de “arte pela arte”. A rastamusic é o que os teóricos Modernos e Contemporâneos consideram, com o horror de uma normalista, uma arte “utilitária”, pelo simples fato de ser música feita com claros objetivos político-ideológicos e metafísicos, que transcendem à comunicação artística de mero entretenimento.
Para além da difusão de ideais socio-políticos, as composições, em sua harmonia, ritmo e timbres dos instrumentos, buscam sintonia com o pulsar de um coração tranquilo e, por isso, estas composições são chamadas de “música do coração” ou heart beat.
O uso da percussão com objetivos místicos e psicológicos tem raízes milenares não somente na África mas também na Ásia, em culturas antigas de países como Índia, China e Japão, sem falar dos povos pré-colombianos e dos povos indígenas brasileiros. Os sons dos tambores e de outros objetos percussivos, diferentes entre si e combinados na “batida” do reggae, é um meio de conexão com a divindade, de acordo com o conhecimento ocultista, que considera o som como a primeira manifestação de Deus em sua criação de todas as coisas.
Está escrito no Gênesis: “No princípio, era o Verbo”; e o Verbo é palavra; e palavra, expressão objetiva do pensamento, concretismo sutil do mais abstrato, é som. A física atual já pode confirmar este ensinamento bíblico, uma vez que foi detectada uma vibração sonora presente em todo o cosmos conhecido até agora. A análise científica revelou que tal vibração, chamada “ruído de fundo” ou “reverberação residual”, trata-se de um campo energético cuja idade se confunde com a origem do Universo, ou seja, tem a idade do Big Bang.
Outro aspecto da importância da música na cultura rasta é de natureza psicológica, aspecto este igualmente aceito pela ciência. Experiências laboratoriais já provaram exaustivamente que a música interfere no estado de espírito, ou humor, não apenas dos homens, mas também dos animais e até das plantas. Há músicas excitantes, outras depressivas e outras ainda, como o reggae (bem como a newage music e os cantos gregorianos, o canto-chão) que são tranquilizantes, capazes proporcionar um estado mental de serenidade, apaziguando emoções violentas e, por conseguinte, melhorando o desempenho da inteligência como um todo. Este poder tranquilizador da rastamusic é reforçado pelas letras das canções, que contêm mensagens de paz, amor e dignidade.
É um tipo de sonoridade capaz de despertar a divindade que, em sua onipresença, reside dentro de cada um, por vezes oculta, mas sempre ali, esperando apenas um pequeno chamado para se manifestar. Cantando os versos de um reggae, proferindo repetidas vezes afirmações positivas, acredita-se que é possível, efetivamente, transformar a realidade. Esta é uma concepção que, mais uma vez, encontra respaldo nas tradições esotéricas que professam o ensinamento: “Falar é Criar”.
PALAVRAS DO REI
Durante, 44 anos, tempo em que foi Imperador da Etiópia, Haile Selassie destacou-se entre todos os líderes mundiais que militaram em favor de um mundo melhor. Entre os chefes de estado africanos, foi o principal articulador da realização do ideal de uma África livre e desenvolvida. Empreendeu viagens diplomáticas a numerosos países, chamando atenção para as questões da Etiópia e do continente como um todo. Seu apelo, “Olhem para a África”, frutifica até hoje, inspirando movimentos negros, mantendo a África como um vetor (uma força) fundamental na equalização das forças socio-políticas atuantes no planeta.
Na sessão abaixo, estão relacionadas algumas das falas de “Ras Selassie”, que jamais temeu tocar no nome de Deus nas tribunas internacionais. Nos exemplos aqui relacionados a impõe-se, notavelmente, a atualidade das idéias do Leão de Judah:
“Além do Reino de Deus, não há governo humano que tenha mais mérito que outro. Mas, nesta Terra, quando um governo poderoso acredita que está certo eliminar outra nação, contra a qual nenhuma ofensa possa ser imputada, então chegou a hora do prejudicado trazer os males que vem sofrendo perante a Liga das Nações. Deus e a História estarão observando, como testemunhas, o julgamento que será dado aqui”. (Primeiro pronunciamento de Haile Selassie na Liga das Nações, 1936)
“Muito espaço tem sido dado aos ricos em suas ações contra a vida humana neste planeta, como a corrida armamentista, mas pouco divulgados são os efeitos colaterais e as conseqüências indiretas dos gastos militares astronômicos. O desarmamento deve ser empreendido para que assim possa se extinguir a ameaça do holocausto mundial. Com uma drástica redução dos orçamentos militares serão liberados os recursos necessários para erguer todos os seres humanos à condição de homens realmente livres”. (Conferência de Belgrado, 1961)
“Devemos olhar, primeiro, para Deus Todo Poderoso, que levantou o homem acima dos animais e lhe deu inteligência e razão. Nele devemos colocar nossa fé, pois Ele não nos deixará e não permitirá a destruição da humanidade, que Ele criou à sua imagem. Devemos olhar para nós mesmos, para o fundo das nossas almas. Devemos nos transformar em algo que nunca fomos antes. Nossa educação, experiência e ambiente nos prepararam mal. Devemos nos tornar maiores do que temos sido, mais corajosos, mais altos de espírito, com uma visão de maior alcance. Devemos nos tornar como uma nova raça, ultrapassando pequenos preconceitos, prestando nossa lealdade não às nações mas, sobretudo, aos nossos irmãos e à comunidade humana“. (ONU, outubro – 1963)
“Nós, africanos, ocupamos uma posição diferente; na verdade, única entre as nações deste século. Tendo sofrido opressão, tirania e jugo por tanto tempo, quem teria mais direito de reclamar melhores oportunidades e o direito de viver e crescer como homens livres? Não teríamos nós o direito de levantar o clamor pela justiça para todos? Reivindicamos o fim do colonialismo, porque a dominação de um povo por outro não é correta. Reivindicamos o fim dos testes nucleares e da corrida armamentista porque estas atividades representam terríveis ameaças para a humanidade e um desperdício material e cultural. Isto tudo é um grande erro“. (Pronunciamento aos Líderes Africanos. Adis Abeba – 1963)
“O que os países economicamente atrasados estão buscando (…) é a aplicação do dinheiro hoje desperdiçado com armamentos na solução de problemas socio-econômicos. Os grandes desafios que enfrentamos atualmente são dois: a preservação da paz e a melhoria das condições de vida daquela metade do mundo que é pobre. Estas duas questões são, é claro, interdependentes. Sem a paz, é inútil falar da melhoria das condições de vida da humanidade e sem tais melhorias, garantir a paz torna-se muito mais difícil. Estes dois problemas devem ser atacados simultaneamente (…) Uma das tragédias de nossos dias é que a metade da humanidade se vê às voltas com a fome, nunca satisfeita, a pobreza, a ignorância, a doença. Se as grandes quantias gastas pelos governos com a invenção e fabricação de armas fossem redirecionadas para atender às necessidades vitais dos homens de todo planeta, estes homens poderiam resgatar sua dignidade, sua felicidade e sua confiança, sua fé no futuro”. (Cúpula da Organização da Unidade Africana – OUA. Cairo – Egito, 1964)
Veja o que a Bíblia diz: ECLESISÁSTICO (19; 20-24): “Toda Sabedoria é temor do Senhor; em toda sabedoria está a prática da Lei e o conhecimento de sua onipotência. O empregado que diz ao patrão: ‘Não fareis como desejas’, mesmo se depois o faz, irrita a quem lhe dá o alimento. Conhecer o mal não é sabedoria, e não há prudência nas decisões dos pecadores. Há uma esperteza que é abominação, e é insensato quem carece de sabedoria. Vale mais ser menos inteligente, mas com temor de Deus, do que ter muita prudência e transgredir a Lei.” Todos nós devemos buscar o espelho da doutrina rasta, que prega o respeito, a cumplicidade, humildade e a união, sobre tudo, passando por cima de quaisquer diferenças de raças e tornando-se apenas em uma, raça do amor, raça do respeito, rastafari!
Que o Deus Altíssimo de Abraão, Isaac e Jacó seja Louvado, pois já é o tempo de regressar ao Pai.
Dicionário RASTAFARI
PREFÁCIO
Dicionário Patois/inglês/português
CADERNO RASTAFARI MENELIK
Saudações em Nome de Sua Majestade Imperial Haile Selassie I
Irmãos e Irmãs o grande motivo pelo qual esses textos foram compilados e organizados é a necessidade crescente de difusão da cultura Rastafari através da informação. Eu&Eu sei que muitos ao buscarem o conhecimento do ponto de vista Rastafari, acabam entrando em grande confusão por falta de referências e de estudos, muitos querem as respostas prontas e acabam apenas reproduzindo estórias que muitas vezes, não passam de calunias.
A nossa historia por mais que se remonte aos tempos mais remotos não esta nos livros das bibliotecas públicas, não esta nas prateleiras das lojas de livros, não esta em revistas, nem em jornais. Desde que o primeiro homem Rasta chegou na América, nossa historia esta constantemente sendo apagada, esquecida ou caluniada, difamada, confundida. Mais então onde esta a nossa historia? Como encontra-la? E principalmente como reconhece-la?
Eu&Eu em verdade digo! Nossa historia esta em nosso discernimento do bem sobre o mal, da verdade sobre a mentira, do sim sobre o não e o mais importante, nossa historia esta em nosso Eu e não em nosso Ego, que engana e desfaz famílias.
Hoje Irmãos e Irmãs contamos com uma ferramenta chamada internet, que possibilita a pesquisa, a comunicação virtual e uma infinidades recursos e de possibilidades de uso no entanto, sabemos que muito de seus conteúdos não nos diz respeito, por não condizer com nossa conduta e nossa postura Real. Porém Eu&Eu vem observando nos fóruns de discussões sobre a cultura Rastafari uma grande confusão nas idéias de muitos que se alto intitulam “Ras” sem conhecimento prévio de seu significado.
Sem a intenção de criticar ou muito menos de firmar qualquer tipo de julgamento, a proposta desse trabalho é utilizar publicações postadas em sites, blogs, fóruns, e etc, da internet e de nossos trabalhos, estudos e pesquisas, divulgar esses textos como forma didática de esclarecimento e auto-conhecimento da cultura Rastafari para todos e todas que demonstrem interesse neste conhecimento, nessa historia, na historia de uma tribo que por um bom tempo andou separada mais que a cada dia que passa ganha mais força e mais vida, por muito tempo nossa historia foi contada pelo ponto de vista do opressor, do senhor de escravo, do colonizador, a mente dos homens ficou tão abalada e tão confusa que ainda hoje restam muitas duvidas e muitos ainda estão perdidos em confusão, mais o Profeta Garvey anunciou e o libertador dessa prisão mental nos mostrou a luz. Mais quem tem olhos que veja, pois o Rei esta em seu santo trono. Eu&Eu Louvamos ao Deus Vivo, o Maravilhoso Conselheiro, Príncipe da Paz Alfa e Omega Rei Haile I Selassie I JAH RASTAFARI I!!!!
PATOIS
A linguagem rastafari
Os rastafaris, assim como tantos outros nichos culturais de todos os lugares do mundo, possuem uma maneira própria de se expressar, de usar a língua. O mais comum é a adoção de um vocabulário básico, constituído de gírias, que são derivações fonéticas de palavras ou neologismos, palavras criadas, cujo sentido escapa a terceiros, não pertencentes ou não familiarizados com determinado grupo (ou tribo cultural). O fenômeno da criação e utilização de gírias é parte de um processo natural de constituição de uma identidade, de um SER ALGUÉM.
No caso dos rastafaris, este recurso gerou um repertório, (vocabulário ou léxico) e uma gramática com semântica e léxico (vocabulário) tão peculiares que a fala dos rastas certamente se aproxima do status de um dialeto, uma língua secundária. A linguagem rastafari surgiu na Jamaica, ilha do Caribe que foi um importante centro da monocultura latifundiária, [primeiramente pertencente à Espanha e depois a Inglaterra, em um momento de capitalismo mercantilista que teve como principal característica a exploração do trabalho escravo predominantemente de mão-de-obra africana e a colonização e exploração agrícola monocultora em grandes plantações conhecidas como Plantation].
Por esta razão, econômica, a Jamaica foi um pólo receptor de mão-de-obra escrava, negros provenientes de diferentes regiões da África, a partir de seu descobrimento, por Cristóvão Colombo, em 1494. A Ilha passou quase dois séculos dominada por espanhóis até ser capturada definitivamente pelos ingleses. Chamado de Patois, (patoá) o dialeto rasta se estrutura sobre duas técnicas ou modos de apropriação e resignificação de termos, herança colonial da mistura entre a língua inglesa e línguas africanas. A primeira técnica é o sincretismo semântico; a segunda, fundamentada em um dogma religioso arcaico, reside em uma mística utilização do pronome pessoa de primeira pessoa do singular: “Eu” ou “I”.
O sincretismo semântico rastafari promove a junção de palavras ou de fragmentos de palavras, como prefixos, radicais, produzindo uma resignificação dos termos formadores sem, contudo, extinguir completamente, o sentido anterior das palavras em seu uso original. Os novos conceitos expressam conceitos abstratos, subjetividades relacionadas às percepções, as vivências do que se utilizam deste idioma. Em muitos casos, a junção dos termos confere ao neologismo (nova palavra) um conteúdo nítido de crítica político-social e conseqüente afirmação de uma ideologia de oposição à situação a que faz referência. Neste tipo de sincretismo, as palavras não se somam simplesmente, elas se relacionam por intersecção de significados, por qualidades comuns aos objetos aos quais se referem. São exemplos deste sincretismo termos como:
downpressers = down Ç opressers
O termo reúne down=baixo e opressers=opressores, objetos que têm como atributo em comum um valor de negatividade existencial que pode ser traduzido pela compreensão de que opressores são depressivos, são down, deprimentes, baixo astral.
Em outros exemplos, a mesma lógica se impõe nos casos seguintes:
Poulitricks= políticos “dos truques”, trapaceiros, corruptos.
Shity= city + shit reunião afirmativa de opinião significando que “cidade” implica “merda”, má situação, ou, em resumo, cidade-de-merda; ou ainda:
SHISTEM (sistema-porcaria)
SHITUATION (situação-porcaria, encrenca).
EU: LEMBRANÇA DE DEUS
A utilização do pronome “EU” é a segunda característica da linguagem rastafari. Este pronome é usado como prefixo e sufixo ou como parte de termos compostos. Em várias expressões substitui os pronomes você, tu e nós na comunicação interpessoal. Esta gramática estranha, que privilegia a primeira pessoa do singular, se explica como prática mística, exotérica (de domínio público). Suas raízes, entretanto, são “esotéricas” (com S e não com X), ou seja, não são de conhecimento do povo mas, antes, pertencem ao conhecimento da Tradição das Ciências Ocultas, do Hermetismo, ou seja, a razão da utilização peculiar do EU na língua rastafari somente pode ser explicada por Iniciados Ocultistas.
Em todas as religiões do mundo, o primeiro dos milhares de nomes de Deus é “EU SOU” ou ainda “EU SOU AQUELE QUE SOU” ou “EU SOU AQUILO QUE É”. Esta foi a resposta de Jeová (Yahvé – Jha+Yehva) quando Moisés, no alto do Monte Sinai, perguntou ao Deus que o guiara até ali “como chamá-lo?”, “como nomeá-lo perante o povo?” (BÍBLIA SAGRADA, Êxodo). Moisés é um personagem dos livros sagrados judaicos porém “EU SOU” já havia se manifestado e assim mesmo se identificado em tempos muito mais recuados, na Índia dos Vedas, escrituras que contêm um Livro da Criação. Nesta Cosmogênese hindu, o Universo objetivo nasce quando “o UM” em sua infinita solidão, tem uma primeira percepção de si mesmo (do divino self). No despertar de um Manvatara (ciclo de atividade do Universo) exclama “EU SOU!” – e ao acrescentar: “EU SOU ISTO!”, projetou a partir do seu SER ABSTRATO E IMPLÍCITO TUDO, todas coisas que existem, existiram e existirão, no Universo explícito, objetivo.
EU SOU, como primeiro e único e verdadeiro nome de Deus, “PRIMEIRA PESSOA DE UM SINGULAR”, é uma firmação evidente de um dos três atributos divinos: a ONIPRESENÇA (além da onisciência e da onipotência). Onipresente, de fato, significa “presente em todo lugar, em tudo”. A recorrência ao pronome EU, sua repetição na linguagem rastafari, deve-se, portanto, ao sentido mais elevado que este monossílabo encerra. Em De Magistro, Santo Agostinho (mestre filósofo medieval do cristianismo católico ocidental) expõe o seguinte pensamento: se Deus de tudo sabe porque deve o homem rezar, pedir graças ou perdão se, de antemão, Deus já está a par do que se passa em nossas vidas? O sábio da Igreja conclui que rezar é um exercício mental que o homem faz; um exercício de memória e auto-condicionamento. Quando reza, em recolhimento, “na câmara secreta de seu coração”, concentrado na oração, o homem lembra ou re-lembra a si mesmo seus erros e acertos; ele se corrige, se perdoa e se premia. Ao rezar o homem se conecta com presença de Deus que nele habita nele próprio, homem, posto que Deus é onipresente.
Psicólogos e ocultistas distinguem, na psique humana dois “EUs”. Um, objetivo e aparente. É o EGO, personalidade condicionada por família e sociedade. O EGO é marcado pelo nome e por suas referência mnemônicas (lembranças, memória) de tempo e lugar. O OUTRO EU, é chamado EU SUPERIOR cuja existência antecede e transcende o EGO. A característica do EU SUPERIOR é a INDIVIDUALIDADE, que não se confunde com personalidade e subsiste para além de nomes e registros civis.
Os rastafaris empregam a sonoridade da palavra EU pela ressonância (força vibratória) de seu significado ancestral e mesmo a-temporal. O EU ou I está presente em composições de vocábulos e expressões idiomáticas como lembrança cotidiana e constante (1°) da supremacia de Deus – O EU SUPERIOR; (2°) da identidade entre Homem e Deus por sua conexão metafísica. A excentricidade deste modo de falar funciona como uma espécie de didática para a reeducação da percepção self – o si mesmo – como algo maior que o Ego. Quando um rastafari diz “I and I will be there” (Eu e eu estaremos lá) ao invés de I and he, ou I and you, (eu e ele, eu e você), a frase repercute no inconsciente como uma negação da Personalidade-Ego condicionado, contrapartida de afirmação do Eu-Superior-Indivíduo-Uno com o Todo, Uno com Deus. Em outro caso, o pronome é usado como prefixo indicativo de identificação entre pessoa-objeto-Deus, reconhecendo a unidade divina como essência da diversidade aparente entre as coisas. São exemplos:
I-Tal = Eu-comida, Eu-alimento, ou Eu-Vital, Eu-coisa-vitalizante
I-shence = incenso, Eu-Incenso
I-praises/I-ses = Eu-oração
I-reation=I-creation= Eu-Criação
I-wer= I-power= Eu-poder
Em todos os casos, o sentido da composição é a afirmação do EU SOU, referência ao primeiro nome de Deus, EU, revelador da VERDADE UNA oculta em Maya – a ilusão da realidade múltipla. Dizer Eu-Vital é resumir o pensamento: Eu SOU este ser e também SOU este outro ser, alimento, substância vital. Então afirma-se EU SOU ÁRVORE, EU SOU ETIÓPIA, EU SOU VOCÊ, como declaração verbal de reconhecimento da onipresença de Deus porque Deus é tudo e todos; é incenso, é alimento, á água, pedra, vento, palavra, silêncio, poder, criação, planeta e grão de areia. Deus é todo tipo de SER: pedra bruta, mineral, planta, micróbio e também humano, racional, I-Tal – Tudo no Todo é Vital.
A utilização mística do pronome EU na linguagem está ligada, portanto, às influências religiosas que orientam o movimento da coletividade ou comunidade rastafari mundial. Os rastafaris, hoje, são como uma espécie de nação sem território ou representação política oficial. A Nação Rastafari se institui pelo compartilhamento espontâneo de valores ideológicos, filosóficos e religiosos. A ideologia se posiciona como crítica aos sistemas políticos vigentes: capitalismo neo-liberal e socialismo, meros rótulos impotentes frente aos abusos dos egos governantes das maiores potências do planeta. A filosofia destaca os aspectos metafísicos da ontologia, do SER do homem e do Universo, enfatizando a realidade sutil ou subjetiva do EU-Superior através do qual se explica a Unidade na Diversidade. Como religião, rastafari, apresenta uma busca pelo cristianismo primitivo incorporando o conhecimento das mais antigas das tribos judaicas, os proscritos Essênios, apontados, historicamente, como prováveis iniciadores do Cristo Jesus.